COMMAND ACTION - DIREÇÃO DE ARTE E FIGURINO
- MARINA PALMERO BUTOLO

- 18 de jun. de 2023
- 6 min de leitura
Da moda para o cinema - Meu primeiro trabalho no audiovisual
Dezembro, 2014 estreia 2015 na Semana da Crítica no Festival de Cannes.

Curta-metragem Command Action, que estreou na Semana da Crítica no Festival de Cannes, meu primeiro trabalho no cinema assumindo a direção de arte e figurino.
Recomenda-se fortemente (ou não 🤷♀️) que você leia esse post escutando a música “Alô, Final de Semana Chegou”, mas como essa música toca no filme, eu passei meses escutando isso, inclusive em Cannes, tomando um bom vinho francês no hotel! Hahahahahha (cada louco com a sua mania!) Posteriormente eu posso fazer um outro post contando detalhadamente como fui parar no cinema, mas você pode ler um pouco sobre esse assunto na entrevista que dei para a revista Tintura de Amora em 2021 Nº1.
Em todo caso, esse foi o primeiro trabalho que realizei como diretora de arte, embora não fizesse muita ideia, quase nada, do que era. Figurino já era minha praia, já que trabalhava e sou formada em produção de moda, então o que fiz foi tratar o filme como uma grande produção de moda, ou seja, teria que cuidar do cenário, figurino, criar paleta de cores, etc., porém com "modelos não tão bem vestidos" 😅. Eu não estava tão enganada quanto a semelhança dos dois trabalhos, só não imagina que direção de arte abrange muito mais “coisas” e ao mesmo tempo, bem menos “coisas”, mas tudo bem, a gente aprende com o tempo. Eu aprendi! Obrigada universo! 🤲🙏
Produção de objeto, cenografia, produção de arte, etc… eu e toda equipe de arte formada pelas assistentes Eliana Palmero Butolo (minha mamys poderosa que trabalha comigo até hoje) e Giuliana Ferraresso (na época estudante de cinema, hoje já deve estar formada há anos…) éramos todo um departamento de arte MAIS figurino, que pasmem, na época acreditava ser função da direção de arte, sim… sério!
Meu caro leitor ou cara leitora..., para te situar no tempo e espaço, em 2014 eu trabalhava como produtora de moda na cidade do Rio de Janeiro, mas sou nascida e morei maior parte da minha vida na cidade de Rio Claro, interior de SP, onde resido no momento que escrevo este texto, graças a este filme ao qual este texto se refere.
Em 2014, enquanto chegava de um editorial filmado, ops, fotografado… (o dedo já digita filmado sozinho), em um dia chuvoso, láa em Vargem Grande, um bairro da cidade do Rio bemm longe da Glória, onde residia, meu primo Diego me chamava loucamente no Facebook (na época não tinha whatsapp…a tia tá velha!) para me apresentar para um casal de amigos que estava na casa dele, na época em Barcelona. Era o João Paulo Miranda com sua esposa Fernanda.
Ele, o João, precisava loucamente de uma diretora de arte para fazer um curta que iria filmar para enviar para Cannes, e meu primo, prevendo o futuro, disse que ele tinha que me conhecer, que iríamos dar super certo. E acho que deu! Somos parceiros de trabalho e amizade até hoje!
Esse tal filme, era esse, Command Action.
Graças ao casamento da minha amada amiga Mariana, fui para Rio Claro aproveitando tal momento para fazer uma reunião e falar sobre este tal trabalho. Lembra que eu era produtora de moda, né? Fui toda arrumadinha no estilo fashion business, levei portfólio impresso, digital, estava pronta para sentar em uma mesa com profissionais do cinema e tentar convencê-los de que eu aprenderia rápido (novamente, não sabia o que era direção de arte) e seria perfeita para tal trabalho.
Acontece, que com exceção da reunião, que de fato aconteceu se pensarmos em reunião como algumas pessoas reunidas, nada do resto aconteceu, e acredito que muito provavelmente, nenhuma daquelas pessoas nunca viram meu portfólio. Talvez veja agora, depois de quase 10 anos, neste espaço onde posto fotos delas e escrevo sobre as mesmas hehehe.
A tal reunião na verdade era um encontro do Coletivo Kino-Olho que até aquele momento eu não conhecia, nunca tinha ouvido falar e nem sabia do que se tratava. Mas eu gostei, bastante, fiquei interessada e pelo menos o diretor, o João, por algum motivo confiou em me entregar a direção de arte daquele projeto até então denominado como Feira Livre.

Entre idas e vindas entre as cidades “Rios” (Rio de Janeiro - Rio Claro) me encontrava com as pessoas do coletivo onde fomos trabalhando em grupo no roteiro, nos reunindo toda semana no Centro Cultural Roberto Palmari em Rio Claro.Sentávamos no cinema do CC com um cheiro um tanto peculiar de mofo (que até o presente momento permanece) e debatíamos o que viria a ser o filme que iria para Cannes (sim, é difícil entrar em Cannes, hoje tenho muita noção disso, mas na época, eu só falava “Estou trabalhando em um filme que vai para o Festival de Cannes”, falam que falar as coisas para o universo como se fosse certeza dá certo, nesse caso funcionou…. coitada de mim, não tinha ideia como os festivais funcionavam).
Por um instante, quase tudo foi por água abaixo, já que o diretor avisou que não teríamos verba para realizar o curta-metragem. Nesse momento eu já havia praticamente me mudado de volta para Rio Claro e cancelado algumas produções de moda. Então, eu me propus a trabalhar sem ganhar um real, ofereci meu acervo sem custo e assim fez grande parte da equipe que trabalhou nesse filme, que foi produzido, senão me engano, com cerca de R$500,00 gerados através de uma rifa organizado pela produtora Cláudia do Canto, que usou do seu networking com os comerciantes da cidade para conseguir produtos para rifarmos. Só minha vó comprou umas 10!
Como postei no meu portfólio na aba deste curta-metragem, fiz um mood board ou painel de referência, para este filme praticamente da mesma maneira que fazia quando trabalhava como produtora de moda.

Entre figurantes e personagens principais, eu não lembro o número exato, foram cerca de 30 figurinos diferentes, os quais eu separei cada um em uma sacolinha de mercado etiquetando todas com o nome do ator/atriz, personagem e os pertences presentes na sacolinha para que ninguém esquece de devolver nada e eu pudesse conferir no final.
A minha mamys poderosa entrou na equipe (na qual continua até hoje) quando o João me disse que poderia ficar a vontade para montar minha equipe, e durante as visitas técnicas ou tech scout (que eu nem imaginava que levava esse nome) eu percebi que coordenar todos os feirantes (esse curta se passa na feira livre do bairro Cervezão aqui em Rio Claro - SP) não seria uma tarefa nada fácil, se ainda hoje eu me considero com alguma dificuldade em ser mais “dura”, na época eu era uma…. besta (verdade seja dita!), imagina falar para uma pessoa que faz a mesma coisa há anos, décadas,que eu iria mudar suas frutas e legumes de lugar por causa das suas cores…. Aí entra mamys, professora há décadas, ou seja, dar ordens é com ela mesmo!

Outra participante do curta-metragem foi a Carlota Joaquina, que hoje da nome a minha produtora. Em seu primeiro set de filmagem, Carlotinha participou de uma cena com o ator principal, David, porém a cena foi cortada do curta, hahaha mas pelo menos Dona Carlota Joaquina participou de seu primeiro trabalho no cinema! O Robô, objeto tão marcante no filme, que inclusive é destaque do pôster, foi um achado na casa de um amigo, que eu notei perdido em cima de um armário, e meus queridos, é isso, ser amigo, amiga, familiar, ou até mesmo conhecido de uma pessoa que trabalha no departamento de arte no audiovisual é assim mesmo, enquanto, por sua vez, trabalhar neste departamento faz com que você perca toda vergonha na cara e saia pedindo coisas para praticamente qualquer pessoa que passe pelo seu caminho.

Bom, o robô não andava, suas luzes não piscavam e ele não fazia barulho, o que era um grande problema, então descobri que o pai de uma das figurantes era um mágico “médico de brinquedos” e fez o robô piscar e fazer barulho, andar, nem por um milagre, mas já estava excelente. O Robô reside até hoje no meu escritório. O curta-metragem foi filmado durante 3 diárias, 07, 14 e 21 de dezembro de 2014, e tínhamos que estar no set às 05:30 h. Não podíamos perder muito tempo porque tínhamos apenas o horário que a feira acontecia, que por sinal era sempre domingo, por isso as diárias são espaçadas sendo uma por semana.

No final do ano o curta-metragem Command Action foi selecionado para a mostra Semana da Crítica, no Festival de Cannes de 2015, e para se ter ideia do nosso amadorismo, no catálogo oficial do festival a Fernanda, mulher do João que trabalhou no curta com roteiro e produção está na ficha técnica como production designer, que é a função de direção de arte em português, mas eu lá sabia que production designer era direção de arte?
O próximo passo foi fazer as malas e ir até Cannes descobrir que era aquilo - que eu queria e IRIA fazer para o resto da minha vida, ou que seja eterno enquanto dure esse amorrrrrr………
Assim que der eu posto sobre o primeiro festival de Cannes dessa minha existência, ou do primeiro festival de Cannes com a minha presença. Aliás, daria para fazer um vídeo, já que eu filmava tudo e explicava (se não engano) nos vídeos, porém, filmar é fácil, editar e não ter vergonha para postar é OUUUUUUUUTRAAA.
Essa é a história bem resumida da direção de arte do curta-metragem Command Action que foi minha abertura de portas para o cinema onde entrei, modéstia a parte, chutando as portas e falando OI! A TIA (que até então não era tia) CHEGOU BABY!

Clique no botão abaixo para assistir ao trailer, ver mais fotos e saber mais informações sobre o meu trabalho no curta-metragem Command Action!



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